Marcela Muttoni: Tu moras em Gramado?

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Nota Sinestésica dessa semana: Olfativa
Atividade: Fazer um pão caseiro

Experiência Sensorial: O “cheiro” das etapas da receita do pão, são diversas, desde o momento do fermento, farinha, até o ponto do assar. E remete a uma atividade cotidiana em homenagem as pessoas de Gramado, que tem no fazer a “mão” seu legado. Móveis, chocolates, gastronomia.

Dica: Aproveite essa oportunidade para perceber,  como até uma atividade simples,  como essa, exige que a gente respeite o tempo das etapas, do descanso e do trabalho de “sovar com mais força” para atingir o crescimento. Estamos em isolamento social, quem sabe seja a hora da nossa “fermentação”.

Receita: Pão Caseiro
2 colheres de fermento biológico em pó
8 colheres de sopa (bem cheia) de açúcar
1 colher (rasa) de sopa de sal
2 colheres (rasa) de sopa de margarina
3 ovos
2 xícaras de leite morno
1 kg de farinha de trigo

Modo de Fazer:
Coloque a margarina no leite e leve ao micro-ondas para aquecer
Coloque todos os ingredientes em uma bacia grande e só adicione o leite, aos poucos adicione a farinha.
Sove bastante e deixe descansar até que dobre de volume. Aproximadamente 30 min. Cubra a bacia com uma toalha limpa.
Depois sove novamente e modele tamanho e formato que deseja o pão.
Unte uma forma com farinha de trigo e deixe que cresça até dobrar o tamanho.
Leve para assar em forno 180ºC por mais ou menos 30 a 40 minutos ou até que esteja assado.
O tempo varia, depende de cada forno.
Rende 4 pães.

Em 31 de julho de 2013 vivi uma das situações mais inusitadas da vida da maioria das pessoas. Foi um dos dias mais tristes da minha vida, quando pelo senso comum, deveria estar sendo um dos mais felizes.

Era o dia que eu estava chegando com minha mudança em Gramado. Calma, já vou explicar. Não era por ser em Gramado, podia ser em qualquer lugar, e eu, já tinha muitos e milhares de motivos para amar Gramado, aliás, eu praticamente sempre estive aqui, minha família, já moravam aqui, primos e tios, uma ligação desde a barriga da mãe, com férias, passeios, negócios da família. Mas aquele dia, eu estava triste por que toda a mudança real é sentida, e eu senti ter que mudar de planos, sonhos, casas. Deixar para trás, alguns cachorros, uma casa que amava e encarrar que naquele momento o que eu precisava mesmo, era estar perto de quem me amava.

E assim de forma resumida, eu que nunca tinha desejado morar em Gramado, cheguei nessa que hoje é a cidade do meu coração. Volta e meia, alguém me pergunta onde moro, e quando falo em Gramado as pessoas dizem: – Nossa é meu sonho, como que você fez? E eu geralmente, penso alguns segundos e digo: – Coisas do meu pai, para encurtar a história. E não colocar um balde de água fria, naquela pessoa.

E é com essa pequena história que quero falar de algo que sempre me faz muito sentido – o ser gramadense. Quando moramos aqui, aprendemos que Gramado, se torna nosso sobrenome. Sou a Marcela de Gramado na maioria dos locais que frequento. Em feiras em São Paulo, Cuiabá, Campo Grande, Belo Horizonte, Brasília. Em reuniões em Porto Alegre, onde cabem apresentações, só o simples fato de dizer: – Sou de Gramado, Rio Grande do Sul, muda o olhar das pessoas. Sempre penso: – quanta responsabilidade. E aprendi logo, que isso é ter cuidado, zelar, proteger e amar esse local.

Sou da época, que não tinha tantos restaurantes, quiçá seriam eles de fondues, e que tirar uma foto no Hotel Cavalinho Branco, era obrigatório. Como passear no Parque Knorr e almoçar na churrascaria Três Reis. Naquela época as pequenas fabriquetas de chocolate nos atendiam de forma familiar e comer um café colonial em Gramado era artigo de luxo. Lembro-me de andar de patins com minha prima pelas ruas do Bairro Planalto, quando ali, quase nem casas tinham. E também me lembro de comer pão, quando a Padaria São Pedro era bastante diferente, olhando o Jornal de Gramado, quando o  Mica era editor chefe.

 Além das lembranças de uma vida, ainda jovem claro, aprendi muito nesses anos como moradora, que o encanto de Gramado é sua gente. A mágica está ai. Não me sinto apta a dizer que sou Gramadense, sempre digo, sou uma recente moradora apaixonada pelas pessoas de Gramado, aprendiz. Gramado é sem sombra de dúvidas, seu povo.

Foto: Arquivo pessoal – Marcela Muttoni – Ano 1984

Muitos aqui chegam, muitos vão embora. Muitos sonham em aqui estar, mas Gramado é feito das pessoas que de manhã bem cedo acreditam que varrer a rua faz parte do seu trabalho. Que ficam sisudos com falta de educação no trânsito. O melhor de Gramado é ouvir as histórias. Da construção da Igreja onde alguns Pedros se reuniram e por isso, chegaram ao concesso que talvez fosse um sinal divino: Igreja São Pedro.

Meu pai, sempre em conversas mais intimas fala: – temos que respeitar o trabalho e o “como” fazer das pessoas que fizeram Gramado. É isso que faz Gramado ser Gramado. Seu jeito de fazer. Não se busca fórmulas fora, se constrói olhando pra dentro. A comida típica é a da casa de imigrantes italianos e alemães que aqui chegaram. É pão e bolacha, massa e doces com sabor de lembranças passadas de mãe pra filho.

Respeitamos as receitas e a história. Cuidar dos nossos jardins, dar exemplo. Dar lugar para os visitantes no trânsito e sim, começar por nós. Cuidar das nossas árvores, das ruas.  Foi os homens e mulheres visionários desse lugar, que fizeram dessa cidade, sobrenome comum.

A capacidade de pensar além da individualidade e ser tão receptivo, a ponto de se tonar sonho de vida de grande parte das pessoas. E como tenho sorte, ou um anjo muito forte, desde que cheguei a Gramado, em função do meu trabalho, conheci algumas das pessoas que mais admiro na vida e elas são gramadenses da “gema”.

Ter a honra de ouvir Marta Rossi, das maiores empresárias do Brasil, contar sobre os ciclos econômicos, a festa das hortênsias levando o turismo daqui para o mundo, me emocionou algumas vezes, tendo eu que me disfarçar em reuniões, vendo os olhos verterem.  

A defesa do chocolate daqui através do querido Caio Tomazzeli, que trabalhando ao lado dele, aprendi tanto sobre a história de Jayme Prawer. Estar nos bastidores do Natal Luz e recepcionar uma comitiva de jornalistas da China e ver a emoção dos mesmos, quando os desfiles de natal eram ainda em plena Av. Borges de Medeiros. Ver aquelas pessoas, moradores, trabalhadores, muitas vezes em baixo de chuva correndo, para permitir o sonho acontecer. Crianças ensaiando nos pavilhões. Artesãos trabalhando dia e noite. O natal que encanta o mundo, começa no coração das casas aqui.  As famílias da hotelaria treinando funcionários, ensinando o jeito de ser Gramado. Um legado único!

As histórias da fábrica “Ortopé”. As famílias dos móveis de Gramado. Sentar tomar um chimarrão e ouvir histórias da minha querida vizinha, D. Terezinha Berti que com seus quase 80 anos, me contou sobre a rua onde moro. E assim a capelinha de Nossa Senhora da Graça me levou a outras casas.

Tudo isso foi pra dizer que este fim de semana em função da pandemia, Gramado se viu lotada de turistas, para nossa alegria e medo. E ainda no sábado, com uma bandeira vermelha no mapa do combate ao COVID no Estado, fechando nossas fronteiras novamente.

 Isso fez com que sentíssemos todos os tipos de reações das pessoas e do comércio. Todos aqui acabam tendo atrelado a sua vida ao turismo de alguma forma. A luta das autoridades para chegar junto ao Governador do Estado, Eduardo Leite, no ponto de equilíbrio da melhor decisão é pauta dessa semana.

Gramado não tem casos ainda de perdas por coronavírus. E temos tido muito cuidado. Dá pra melhorar. Lógico. E é nisso que teremos como comunidade em concentrar nosso esforço, esse ponto de equilíbrio. Como fazer?

Quando leio as noticias e vejo essa situação que todos estamos passando, me vem essa voz forte na consciência: os gramadenses sabem como fazer. E o jeito de fazer dessas pessoas sempre foi generoso, acolhedor, preocupado e com forte orgulho de suas raízes familiares e históricas.

Gramado não se fez no “achismo” e ainda é referência em todo País em modelo de sucesso. Vamos ser agora também. Isso começa pela nossa união. Em compreendermos que  não existe “a” ou “b” e sim um todo chamado nós. Olhar e respeitar a história dessas pessoas, ouvir e dialogar. Olhar para o mundo, com os olhos em casa. Cuidar de nossa gente, começando pelo quintal de nossa casa. Gramado será exemplo de como fazer, e temos aqui um celeiro de grandes personalidades.

É nas diferenças que crescemos, e não se iluda, Gramado é sim de todos, mas antes, Gramado é cuidado, defendido por aqueles que aprendem em casa, que Gramado é, antes de tudo,  uma grande família. E como uma família que se importa uns com os outros, desde os mais velhos que já estavam aqui, quando alguns sequer sonhavam, e com aqueles que aqui chegam e que terão a nobre missão de continuar a contar essa história nas próximas gerações

Mãos à obra!

Crônicas e histórias cotidianas sensoriais
“Acredito que podemos ler, estimulando mais que um sentido. Por isso, em mais de 18 anos de profissão, me apaixonei pelo processo de escrever levando o leitor a usar além da visão, outros estímulos sensoriais.

marcelamuttoni1@gmail.com

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