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Marcela Muttoni: O Pinheiro e a Goiabeira

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Essa semana a experiência sensorial será sinestésica, pois vamos explorar o toque. Após cozinhar pinhões, como descascar ou comê-lo e após comer goiabas. Dá pra comer sem descascar? Qual a proteção de cada? O que acontece se cozidos? Doce ou salgado? Busque seus pinhões e suas goiabas.

“Nasci no meio de milhares de pinheiros, nasci no meio de milhares de pinheiros, mas eu saquei que sou uma goiabeira”. Quando ouvi pela primeira vez essa estrofe da música “O cubo” da banda brasileira “Dazaranha”, foi quase impossível conter uma risada. Como versos tão simples, traduzem tanto sobre a maioria de nós.

Quantas goiabeiras por aí, nasceram ao lado de florestas de pinheiros, procurando durante sua vida toda uma altura que não atingem, galhos diferentes, folhas diferentes, para se sentirem parte de algo, se sentirem aceitas, quando no fundo, geram lindas e doces goiabas.  – Mas eu não quero goiabas, olha todo mundo ai do meu lado. Ninguém produz goiabas, ora bolas!

Buscando ser iguais, se distanciam de sua essência mais genuína e perdem a capacidade de perceber que é nas diferenças que possuímos o equilíbrio, entre os que geram frutas e sementes, sombra ou umidade. Entre as madeiras rígidas e as madeiras mais flexíveis. 

Ser mais alto. Ser mais forte. Enxergar mais longe. Se pinheiro fosse gente parece que até o vejo certo senhor executivo, um pouco rude e firme. Que madeira nobre, de uma ancestralidade singular. Os galhos espinhentos, não permitem lá muitas aventuras ao longo de seu tronco. Nascer goiabeira ao lado de muitos pinheiros é ter a “casa” cheia de visitas, pessoas desejando arrancar seus frutos ou apenas se acomodar em seus galhos em brincadeiras. É nascer mais baixinha, gerando frutos de época em época. Mais visita, mais passarinhada.

 Talvez de contraponto o pinheiro quantas vezes já lá não desejou, ter seus galhos acomodados por crianças que sobem pelos braços da goiabeira e compartilhar bolsos cheios de goiabas cheirosas. As risadas e o carinho de pertencer a um pomar e não parar tão facilmente em uma madeireira. Sob qualquer ponto de vista, toda a história tem muitos lados. Até mesmo as dos pinheiros e goiabeiras. 

Tanta gente querendo ser isso ou aquilo. Se não gostamos de nosso corpo, operamos. Se não estamos felizes em nosso relacionamento, nos separamos, trocamos. Aliás, hoje em dia acredito que faça mais sentido a palavra, “Test drive”. E assim como as árvores e os carros, o tempo muda as formas e as condições naturais. Quando o “carro” dá sinal de alguma falha, trocamos o carro, o motorista e partimos para outros “Test drive”. A árvore é podada, se muito velha até arrancada, com algum pretexto que de tão velha, pode cair.

Os intelectuais, filósofos do nosso tempo, se derramam sobre análises de comportamento da sociedade atual, e nesse ponto, as forças das palavras do sociólogo Baumann, em sua célebre obra “Amor Líquido” retumbam sobre esses dias atuais.

Mesmo em momento muito caótico social, onde temos desde a pandemia do vírus, até a chegada de nuvem de gafanhotos, protestos nos Estrados Unidos, política brasileira em colapso. É tanta noticia estranha, que em qualquer breve lapso de normalidade, o que mais vemos é as pessoas em sua grande maioria agindo como que eufóricas buscando a socialização.

Precisamos sair. Precisamos nos arrumar. Precisamos nos sentir bem alguns falam, e isso tem a ver com convívio, com beleza, com mimos, afetos. Em tempos de guerra, alguns anos atrás, isso seria mórbido. Quando que isso se tornou parte de nossa sobrevivência?

Passamos a mudar nossos cabelos, corpo. Nossa imagem já não reflete quem se é, e sim quem desejamos ser e a partir de então, nesta atual geração, nunca assistimos uma explosão tão veemente de procedimentos estéticos que alteram agora também com força nosso rosto. São lábios, Botox, sobrancelhas, cílios, bochechas…
Sobreviver tem muito de sobre se sentir feliz. E onde esta felicidade?

A beleza reflete sobre valores que não são só externos, mas explícitos em ícones considerados de validação social como sucesso e dinheiro. A beleza passou a ser indicativo qualitativo sobre a forma como a pessoa pensa ou sobre qual tribo pertencemos. Pertencer, desde a história do pinheiro, da goiabeira, do “Test drive” e agora sobre porque mudamos nossos traços, tudo esbara nessa palavra. Pertencer.

Talvez se pinheiro fosse gente, desejaria ser goiabeira, mesmo ela não tendo tanta altura, nem sua nobre madeira e a vista exclusiva da copa das árvores. A goiabeira que nasceu numa floresta de pinheiros, pode muitas vezes desejar ser pinheiro e mudar seus galhos, suas folhas e até seus frutos. Mas o cheiro ela não muda e nem suas raízes.

Assim, quem nasce pinheiro ou goiabeira, sabe que por mais que a poda exista, o que diz quem você é, não aparece pelos traços externos e sim pela memória genética. Seu legado e esse é praticamente invisível, porque por mais mudanças que se faça, as sementes não mudam. É através das sementes. sua continuidade não se dá pelo que se vê, mas pelo que você deixa. Ok.

Vivemos em tempos de alterações genéticas, mas mesmo assim, a mudança é de dentro pra fora. E não de galho pra dentro, ou seria de goiaba pra dentro. Acredito que ousado mesmo é ser goiabada, que busca o melhor com a situação e já passou pelo processo de entender que mudanças vão existir, e muitas vezes trazem um novo olhar sobre um mesmo sabor, uma nova forma de enxergar ou quem sabe, sentir.

Crônicas e histórias cotidianas sensoriais
“Acredito que podemos ler, estimulando mais que um sentido. Por isso, em mais de 18 anos de profissão, me apaixonei pelo processo de escrever levando o leitor a usar além da visão, outros estímulos sensoriais.

marcelamuttoni1@gmail.com

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