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Letícia Rossa: Educação (ainda) é resistência

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1988:A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” É com esta garantia que a Constituição Federal assegurou a brasileiras e a brasileiros uma sala de aula digna, justa e igual. Da infância à vida adulta, a aprendizagem deveria ser regra. Pois bem, deveria.

2020: Governo Federal reduz em 16% o investimento em educação, resultando em uma perda de R$ 19,8 bilhões do orçamento previsto para este ano. O desfalque atinge, com maior ênfase, universidades públicas e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência que atua na expansão e consolidação da pesquisa.

A tesoura que parece não parar de cortar estes recursos estremece aqueles que tomam a educação como o melhor caminho para uma sociedade mais humana, mais aberta, mais honesta. Com a exclusão destes incentivos, se apagam os sonhos de incontáveis meninas e muitos meninos – e, assim, beiramos o mais baixo nível da democracia. Ao restringir verbas para a educação, o Brasil permite que o futuro de crianças fique para trás.

Não priorizar o ensino, seja básico ou superior, é aumentar o gargalo entre o rico e o pobre – e aí não falo apenas de dinheiro, mas de todos os atributos gerados pela abundância ou ausência de condições financeiras. É reter o conhecimento acadêmico aos que podem pagar. É intensificar o abismo entre aqueles que contam as moedas para comprar o almoço e aqueles que não se afetam com o salário no fim do mês.

Senso de cidadania
Este cenário que beira o caos não é justificado só pelo novo coronavírus. No primeiro semestre de 2019, muito antes de a pandemia ser realidade, o Ministério da Educação já havia confirmado cortes em universidades públicas e em projetos de pesquisa. As suspensões atingiram 80 programas de pós-graduação de instituições federais – inclusive naqueles ranqueados com excelência. Só na Universidade Federal do Rio Grande do Sul foram eliminadas 45 bolsas de mestrado, 80 de doutorado e oito de pós-doutorado.

E agora, em pleno 2020, no auge do que muitos ainda se orgulham em chamar de “tempos modernos”, ainda é preciso que se defenda a educação. Ora, uma amostra desta bagunça que se apresenta no Brasil está em lideranças políticas que permitem discursos que banalizam a pesquisa, reduzem a produção acadêmica, e reforçam que estudantes criam “balbúrdia” – e não conhecimento. Sim, aquelas mesmas lideranças eleitas para, afinal, cessar com a corrupção e encaminhar o futuro do país sem triplex no Guarujá.

É inacreditável que ainda precisemos reiterar isso, mas lá vai: a educação não pode ser minimizada e concebida como partidária. Pouco importa se você é 13 ou 17 – porque quem sofre, no final, é a mesma gente da nossa gente. É o senso de cidadania que deveria priorizar as tomadas de decisão daqueles que estão em Brasília, descansados em berço esplêndido.

Nós não podemos permitir que a educação seja reduzida, encaixotada e pisada por quem vem de cima. O que queremos (e sei que aqui falo em coro a um grupo de estudantes) é um ensino e uma aprendizagem horizontal, que iguala professores, professoras, alunos e alunas. Um processo que abre estradas, que concretiza futuros, que incentiva sonhos. Que forma quem nós somos.

Aprender para educar
Mas a educação no Brasil (como quase tudo no país) é um privilégio. É só olharmos para o perfil de estudantes universitários em instituições privadas: 55% são brancos e jovens (entre 19 e 24 anos), conforme o Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior Privado (Semesp).

Assim, é possível entender porque ainda é repetida a ideia de que “faculdade é coisa de gente rica”. Para colaborar com este estereótipo, se escancara à nossa frente um Ministério da Educação despreparado, incapaz e ineficiente – que parece querer distanciar ainda mais a população das salas de aula.

Mas enquanto eles, de lá de cima, não agem, nós podemos ajudar o vizinho, a prima, o amigo, a colega de trabalho sem acesso às práticas de conhecimento: vamos emprestar livros, chamar para um bate-papo, enviar um vídeo com uma reflexão bacana, convidar para assistir a uma aula virtual aberta, e indicar cursos, por exemplo.

Não é caridade, é bom senso. Porque o ensino não precisa ser pago e formalizado pelas quatro paredes da sala de aula. A educação extrapola o ambiente físico, indo além da escola ou da universidade. O conhecimento se faz, também, na liberdade de uma roda de conversa, no ativismo de uma greve, no trabalho cotidiano. É um bem simbólico que nenhum suposto ministro da Educação pode apagar – nem mesmo com sua dissertação de mestrado plagiada ou tese de doutorado inexistente.

Eu quero acreditar que essa gente avessa à educação é minoria. Eles são a exceção, enquanto a regra somos nós: cada um e cada uma ao seu tempo, com suas lutas e limitações, formando sonho e futuro.

E não é essa uma visão romântica da vida – mas o depoimento de quem (dentro de todos os privilégios reconhecidos) encontrou na educação a alternativa para uma vida com sentido. Não é sobre estudar “para ser alguém na vida”, mas para ter força para fazer desse mundo um mundo melhor.

Porque quem estuda, pensa. Quem pensa, questiona. E quem questiona, via de regra, resiste. Sejamos, portanto, a resistência que tanto querem calar.

Jornalista, mestra em Comunicação e doutoranda em Comunicação
leticiaf.rossa@gmail.com

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