A primeira morte registrada no Rio Grande do Sul de paciente pela variante P1 do coronavírus, ocorrida em fevereiro, em Gramado, se deu por transmissão local do vírus SARS-CoV-2.
A conclusão foi resultado da análise das informações epidemiológicas e genômicas do caso, que comprovou a presença da nova linhagem, que apresenta maior velocidade de disseminação e contágio, na cidade serrana, principal polo turístico do Estado.
Segundo o estudo, o caso ocorreu no mesmo período em que houve aumento no número de internações por Covid-19 no município, diferentemente do observado em outras cidades da região, o que reforça a circulação da variante em Gramado.
O paciente vitimado era um idoso de 88 anos e sem histórico de viagens, mas que teve contato com um motorista da área turística, também contaminado e com registro de transmissão para colegas de trabalho.
No entanto, não há informação da origem dessa transmissão, supostamente ligada à possibilidade de ter chegado ao Estado através de algum turista. “Levantamos a cadeia de transmissão, mas não conseguimos precisar a origem da linhagem, que pode ter vindo de um turista de outra região, em visita a Gramado“, comenta Tatiana Gregianini, bióloga especialista em Saúde e responsável pelo diagnóstico de vírus respiratórios do Laboratório Central do Estado (Lacen/RS) do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) do Estado.
O paciente apresentou quadro respiratório agudo no dia 29 de janeiro e foi internado no Hospital Arcanjo São Miguel, em Gramado, no dia 3 de fevereiro, após exame médico.
No mesmo dia deu entrada na UTI , vindo a óbito em 10 de fevereiro. A análise, que envolveu diversos técnicos da equipe, comprova que o sequenciamento genômico representa um componente essencial para uma vigilância maior sobre a transmissão e disseminação da Covid-19 e as variantes do vírus.
Além disso, aponta que a observação conjunta dos resultados da vigilância epidemiológica e de análises laboratoriais, quando associadas à mobilidade da população, pode auxiliar nas tomadas de decisões e medidas de controle da disseminação do coronavírus. “Remontamos a cadeia de transmissão e conseguimos comprovar que havia, sim, a transmissão em Gramado. O fato de ser uma cidade turística, com certeza, facilitou essa condição“, ressalta Richard Salvato, enfermeiro especialista em Saúde na seção de virologia do Lacen-RS e um dos integrantes da pesquisa.
Embora o o conjunto de dados considerados seja baseado em número limitado de casos, também foi possível apontar o agravamento dos casos de Covid-19 na região, além da comprovação da variante P1, ainda novidade no Estado naquele momento.”Os hospitais de Gramado, Canela e Caxias tiveram aumento bastante significativo de internações naquele período. São dados acessórios, mas que fazem com que a vigilância comece a pesquisar essa situação e se há relação com a variante“, diz Tatiana.
O relatório enfatiza ainda a importância monitoramento genômico, que permitiu com que se chegasse à identificação da P1 em um caso que não levantaria suspeitas, uma vez que a vítima era idosa e com comorbidades. “Devido à vigilância genômica, foi possível detectar uma variante insuspeita de preocupação P1 em um caso de morte por Covid-19 em um paciente do grupo de alto risco (mais de 60 anos com comorbidades) praticando autoisolamento, residente em área remota“, diz o estudo.
Atualmente, os registros de P1 só crescem no RS, inclusive com a primeira comprovação em Porto Alegre, na terça-feira (2), de transmissão comunitária- quando não é possível rastrear a origem da infecção, indicando que o vírus já circula entre as pessoas daquela região- da variante de Manaus da Covid-19.
Os pesquisadores atentam ainda para o fato de que os protocolos de monitoramento de novas cepas devem focar em locais com grande fluxo de pessoas, como é o caso das cidades serranas, que recebem turistas de todo o Brasil e do exterior. “Usando o banco de dados do Google- Covid é possível notar um aumento de 21% no transporte público na cidade de Gramado de 1º de janeiro a 12 de fevereiro, o que pode ajudar a explicar o aumento da movimentação de pessoas e facilitar a disseminação local do SARS-CoV-2. A Capital e as regiões fronteiriças/portuárias também devem ser constantemente monitoradas de forma a garantir o sucesso no monitoramento de novas cepas circulantes“, aponta a pesquisa.
Para Tatiana, os resultados obtidos só comprovam que a ampliação da vigilância genômica deve ser priorizada, a exemplo do que ocorre no Estado- com apoio do Ministério da Saúde -, principalmente diante do cenário de agravamento da pandemia no RS. “Com mais amostras a serem sequenciadas conseguimos informações mais robustas da circulação do vírus e suas linhagens“, complementa.
As informações são do Jornal do Comércio.