Verão. Dias infindáveis, densos, irritabilidade, exibicionismos, bebidas etilicas, amores, umidade, brigas e traições. Angela, moça de família tradicional de Porto Alegre, recém casada com um policial cívil. Ele, do bem como se diz, de família boa mas simples. Porém sensato. Ainda não sabe o que está por vir.
Angela tem seus 45 anos, bonita, agitada, sempre morou sozinha e, agora, se vê, dividindo seu imóvel de dois quartos, com outro ser humano, no calor escaldante de Porto Alegre. Já não bastam os calorões da menopausa, ainda tem que suportar a nova vida de obrigações caseiras, familiares além de, aos finais de semana, ter que ir para uma cidade do interior do estado, da família do policial ( não vou citar o nome dele aqui como o leitor já deve ter percebido), cidade esta mais quente do que Porto Alegre.
Porto Alegre é assim nesta época do ano. Alguns a chamam de “Forno Alegre”. O calor e a umidade se tornam insuportáveis. Os porto alegrenses tem o hábito de ir para as “praia” – aqueles que podem, é claro – pois a maior parte da população permanece trabalhando e “calcinando” no calor.
E assim é a nova vida de Angela, O marido trabalhando e ela em casa, (ela, que sempre foi meio dondoca), enquanto a irmã, o cunhado, o pai e a sobrinha curtem Acapulco, Cancun e outras praias paradisíacas, além das amigas que costumam ir para Santa Catarina (outra mania dos porto alegrenses).
E foi assim, com o calorão da menopausa, com a nova vida (sem praia) e o calor senegalês que assola Porto Alegre que Angela foi ficando diferente. Cada dia mais desgranhada, descabelada, suando, louca de furiosa.
Acho que foi no dia 2 de janeiro, o domingo mais quente do ano de 2022, eles retornam do interior, da casa dos parentes do policial ( de quem não falarei o nome, repito). Ao retornar da garagem ele não acredita no que vê. Aquela mulher loira, linda, sensual, carinhosa até com os animais, que já vinha sofrendo uma transformação, dá lugar a uma outra mulher, louca, azedíssima, absolutamente insuportável.
Além disso tudo, precisa dar remédio à sua gatinha de estimação, que desde sempre habita com ela. Foi o tempo de arrancar a gata das mãos de Angela, o gato se contorcendo, tentando gritar, Angela aos berros e esganando o pobre bichinho e dizendo que iria matá-lo. O marido, disseram os vizinhos, (que nada entenderam), gritava : “Para sua louca VOU CHAMAR A POLÍCIA!!!! MATAR ANIMAIS É CASO DE POLÍCIA!!!!!!!!!!!
Marta Paula Dorje Lama
60 anos
Servidora pública
Contato: pemapaula@yahoo.com.br
*O Acontece Gramado publica as crônicas da turma da Oficina Santa Sede – Crônicas de Botequim, de 2022.