Olá!
Esperava escrever mais tarde, mas diante da comoção em torno da escolha da roupa da Janja para a posse do dia 1º, não me contive.
Antes de falar sobre as escolhas dela, vamos voltar um pouco no tempo para contextualizar o título da coluna, indo para o século XVII, mais precisamente para o país que há um bom tempo dita moda para o resto do mundo, a França, e vamos falar logo da mulher que era casada com o rei, Maria Antonieta. Ela era austríaca e não francesa, e esta foi uma das questões para a sua impopularidade na corte. O seu casamento foi um acordo político, o que era bastante comum na época.
Uma questão interessante é que antes da Maria Antonieta pisar em solo francês, ela teve que se despir na frente da comitiva que a aguardava e vestir roupas francesas, forçando ela a deixar todos os seus itens austríacos para trás, incluindo as suas roupas. Já que era para usar apenas roupas francesas, ela abusou!
Mas não só de abusos ela viveu, Maria Antonieta usou da moda como instrumento político também, tanto para ser notada, pois não tinha voz política no reinado do seu marido, como para ser desejada.
Vamos adiantar uma pouco mais o tempo e falar de outra realeza, Diana.
Lady Di casou muito cedo também, não tanto quanto Maria Antonieta, que casou com 14 anos de idade, Diana Spencer ficou noiva aos 18 anos e casou-se com 20 anos de idade.
Assim que ela encontrou o seu estilo, este foi copiado pelo mundo todo e foi responsável por tirar um pouco da caretice da família real através da moda. E ela foi além, sabendo que seria fotografada começou a comunicar as suas causas pelo mundo entre outras coisas, quem aí não lembra o “vestido da vingança” que ela usou em junho de 1994, após o então ex-marido dar uma entrevista?
Vou deixar uma dica para visitar o Museu da Moda que fica em Canela e que tem na sua exposição réplicas dos vestidos da Lady Di e um muito especial da Maria Antonieta, além de uma variedade de peças que contam a história da indumentária feminina com uma perfeição e beleza que valem cada vitrine.
Vamos passar para as primeiras-damas então.
Michelle. Desde a escolha dos estilistas para vesti-la nas ocasiões especiais, passando pelas cores das roupas e até o mix entre peças de marcas com peças de lojas de departamentos, ela se utilizou da moda para comunicar-se o tempo todo e usou de criatividade também, para mim, foi a grande primeira-dama da minha geração, tanto pela forma estética como o quanto ela foi fundamental nas discussões de gênero e racismo. Diva Michelle Obama.
E agora vamos para a xará dela, Michelle Bolsonaro. O vestido que ela usou na posse de 2019 foi uma criação da estilista Marie Lafayette, que criou seu vestido de noiva, e tinha inspiração em Jacqueline Kennedy, sabidamente uma referência de elegância. E ela criou uma imagem linda, indiscutivelmente. Na posse, de forma inédita, ela discursou e em Libras. As atitudes de Michelle levavam a crer que ela seria uma primeira-dama protagonista, porém as suas escolhas de moda para a ocasião não.
Isso não é uma crítica, é apenas uma constatação! A Michelle Bolsonaro é uma mulher linda, dificilmente ficaria ruim alguma roupa nela, como linda ela estava na posse.
Falando em mulher linda, o que é a Lu Alkmin! Considero as paulistas elegantes como as parisienses. São elegantes sem afetação e a Lu não me deixou passar por mentirosa. Ela entende de moda e escolheu uma estilista que tem seu nome nas calçadas da fama da moda brasileira, Glória Coelho.
E agora vamos falar de Janja.
Na minha última coluna aqui eu falei, talvez tenha profetizado, sobre como criticamos a forma como outra pessoa se veste. Pois não deu 24 horas depois de ter escrito e não é que parece que eu estava certa!
Vamos começar pela escolha do sapato. Foi o mesmo que ela usou em seu casamento, da marca Juliana Bicudo, que produz sapatos de couro feitos à mão. Repetir roupas é uma atitude moderna e sustentável.
Ao contrário do que tradicionalmente as primeiras-damas usam, mas muito adequado na maneira como ela se veste, ela optou por um terno composto por pantalona, colete e blazer que foram confeccionados com crepe de seda vintage, ou seja, tecido reaproveitado que foi tingido naturalmente e que foi bordado manualmente com palha da região da Cooperativa de Bordadeiras de Timbaúna, no RN.
Escolheu uma estilista gaúcha que, assim como Michele Bolsonaro, também fez o vestido de casamento da Janja, a Helô Rocha e que é casada com a diretora criativa Carol Ponce. Preciso falar mais ainda sobre representatividade?
Janja não escolheu uma roupa baseada no meu ou no seu gosto pessoal. Ela fez uma escolha política na hora de vestir e toda vez que uma mulher tem a coragem de se colocar neste centro de discussão eu só posso aplaudir e desejar que o protagonismo feminino tenha seu espaço reconhecido.