Será lançado na próxima quinta-feira, dia 15 de junho, às 18h, no Centro Municipal de Cultura, em Gramado, o livro “Guasqueiro: A arte gaúcha do couro no apero crioulo”. Guasqueiro, no sul do Brasil, guasquero ou soguero no Uruguai e na Argentina, é o artesão que usa como principal matéria-prima de seus trabalhos o couro cru, sem nenhum curtimento a base de produtos químicos ou vegetais. Seu trabalho é principalmente o de fabricar peças do apero crioulo, como se chamam os artigos de montaria utilizados pelo homem do campo. Porto Alegre e Pelotas já receberam o projeto.
Escrito e produzido por Rodrigo Lobato Schlee e Fernanda Valente de Souza, a obra será apresentada ao público junto de uma mostra com centenas de objetos. A maioria dos artigos confeccionados e registrados pelos autores para a produção do livro e para a montagem de um acervo que resgata a história do uso do couro pelos gaúchos, mostrando as origens e a evolução desta centenária arte gaúcha.
A exposição contará com peças que remontam a formação do gaúcho, como uma “pelota” (primitiva embarcação de couro), artigos de montaria como estribos e esporas feitos de couro, um inusitado canhão missioneiro, feito de “taquaruçu” (taquara grossa) e couro, similar aos que foram utilizados na guerra guaranítica e um conjunto composto por diversos modelos de boleadeiras, a principal arma de caça e guerra utilizada pelos gaúchos no passado. Os artefatos ganham vida e recriam um novo tempo e espaço, para ampliar o conhecimento sobre os usos e costumes do povo gaúcho. A exposição estará aberta para visitação nos dias 16, 19, 20 e 21 das 9h às 11h30 e das 13h30 às 17h30.
Além da mostra, também serão oferecidas oficinas, com a apresentação de ferramentas e técnicas utilizadas na guasqueria, onde os visitantes poderão interagir com o couro, aventurando-se na prática de trançados que são a essência do ofício, e que estarão disponíveis na exposição, possibilitando uma imersão no universo de texturas e sentidos que a cultura do couro proporciona.
“O livro e a exposição nos ajudam a entender através de textos, imagens e artefatos de couro, a história de um saber-fazer intimamente ligado ao gaúcho, este tipo humano que, no passado, foi por vezes apelidado de ‘guasca’ – palavra que no dialeto quechua significa pedaço ou tira de couro cru. Uma artesania que surge da necessidade de produzir objetos úteis para o dia a dia, utilizando o couro, matéria-prima abundante na região. Reunindo habilidades, criando técnicas e processos que forjaram a arte de mãos e memória. Esse trabalho traz a força do couro e dessa gente”, destaca Fernanda.
Além de Porto Alegre, onde a exposição fica até 27 de maio, estão no roteiro de lançamento do livro e exposição “Guasqueiro – A arte gaúcha do couro no apero crioulo”, Pelotas, no dia 1 de junho, e Gramado, em 15 de junho. A obra estará à venda durante o período das exposições nos três municípios.
O livro
Dividido em quatro capítulos, o livro narra a cultura e a história gaúcha do couro, além de explorar a matéria-prima, ferramentas e técnicas tradicionais do ofício, seguido de um capítulo pensado de forma didática, com um manual básico de guasqueria, onde os autores ensinam algumas técnicas da artesania, além de termos e expressões relacionadas ao material e seus usos em um glossário. A publicação traz de forma inédita no Brasil, imagens e descrições sobre o trabalho em couro, assim como a sua aplicação em objetos de uso cotidiano dos gaúchos e principalmente nos “aperos crioulos” como são chamados na região os arreios de montaria e nas “pilchas”, vestimentas típicas.
“Contamos um pouco sobre a caminhada do couro na história da humanidade, até chegar ao seu uso na região pampeana, especialmente no período de formação do gaúcho, quando se forma a guasqueria, mesclando culturas oriundas dos povos originários e dos colonizadores. O material foi tão importante para os gaúchos em um determinado momento, que o período ficou conhecido como a ‘era do couro’ no pampa, já que era utilizado com matéria-prima para uma infinidade de utilidades. A relação com o couro começava já na infância, quando o guri do campo confeccionava brinquedos como boleadeiras de sabugo atadas com ‘tentos’, fundas e outros”, explica Rodrigo. Para ilustrar este universo lúdico relacionado ao uso do couro, os autores adicionaram à mostra uma maquete onde é resgatado um típico brinquedo dos gaúchos no passado, os “gadinhos de osso”.
Naturais de Pelotas, o casal Rodrigo e Fernanda atualmente reside em Gramado, onde depois de desenvolverem inúmeros projetos ligados à cultura gaúcha, fundaram há seis anos a Matería Capitão Rodrigo, no Largo da Borges. Um comércio cultural que funciona diariamente como uma escola do mate/chimarrão, na qual se encontra uma mostra permanente de objetos antigos e contemporâneos ligados aos usos e costumes dos gaúchos.
O projeto do livro e da exposição “Guasqueiro: A arte gaúcha do couro no apero crioulo” é uma realização da Ato Produção Cultural, com patrocínio da empresa Baldo S/A e financiamento da Lei Rouanet, Ministério da Cultura.
Ficha técnica do livro
“Guasqueiro: A arte gaúcha do couro no apero crioulo”
Autores: Rodrigo Lobato Schlee e Fernanda Valente de Souza
Edicão: Fructos do Paiz
Revisão: Marlei Teixeira
Foto de capa: Rodrigo Lobato Schlee
Foto de contracapa: Fernanda Valente de Souza
Projeto Gráfico: Nativu Design
Direção de arte e diagramação: Valder Valeirão
Design assistente: Kim Valeirão
Impressão: Gráfica Ipsis
Produção cultural: Roberta Manaa
Comunicação: Gengibre (Cris De Luca, Carol Kirsch e Mari Moraes)