Nota Sinestésica: Tato
Escolha uma pedra e mentalize um problema seu. Ande o dia todo com sua pedra (coloque no bolso, na bolsa, embaixo do travesseiro). Faça o exercício de compreender o que é carregar uma pedra. Cuide dela e depois dessa semana a devolva ao ambiente e perceba se consegue sentir algo diferente pelo “problema”. Quais as lições?
Você tropeça onde? Na pedra maior?
Não tropeçamos na pedra maior. Se tropeça no cascalho frouxo, no que não foi ainda bem sedimentado. Não tropeçamos no morro que corta uma paisagem. Não tropeçamos no conjunto de pedras do caminho, na montanha. Essas que fazem o horizonte ter um traço, todos nós enxergamos, se quisermos e se pudermos.
Mas, os tropeços, eles advém daquilo que não olhamos pela pressa ou porque está no raso. É ali que se que resvala, no que se movimenta sob nossos pés.
Nas empresas, na vida, na família e nos nossos relacionamentos, assim são os problemas do dia a dia. O que todo mundo enxerga, os problemas grandes é fácil perceber. Quase todo mundo viu, sabe onde começa e termina e tem ate opinião sobre como pode “dinamitar” se for preciso. Mas as pedrinhas! As pedrinhas são muitas.
Enquanto o morro é bem grande e um só, não se movimenta, os cascalhos vem em punhados, nos machucam os pés, nos impedem de correr, fazem a gente perder o equilíbrio, tropeçar, escorregar e muitas vezes até cair. E ralar joelhos, mãos, costas, cabeça. É neles que caímos, antes mesmo de começar a subir o morro!
Quando converso com empresários e empreendedores, e me junto a esse time, como é fácil falar sobre o problema “grande”. O País, o governo, a política, a grama do vizinho. Todo mundo geralmente sabe o que faria se tivesse no lugar do outro. Mas no lugar da gente, é só a gente mesmo. Que lugar difícil!
Tropeçamos naquela mensagem que fica para depois. Naquele olhar que sabemos que não está tudo bem e dizemos para nós mesmo: – vai passar. Aquela conversa que adiamos para não perdermos algumas horas. Naquela história que não contamos pro filho.
Naquela DR (discussão de relacionamento) que fingimos que escutamos, mas estamos com os ouvidos sintonizados em algum pensamento distante.
Naquele abraço adiado. Na viagem que passa de ano para ano. Na consulta médica ou no perdão que não buscamos. São essas pedrinhas que geralmente derrubar gigantes. Elas viram pedra no sapato. Pedra na alma e nos afundam., com o peso de algo maciço e sólido, que nos pesa, dificulta o caminho e nos tira a leveza.
E assim de pedrinha em pedrinha, miudinha e pequena, vamos tropeçando pra longe da estrada original e em algum momento quando nos damos conta que fomos ficando de pé como pudemos e que as pessoas ou situações que faziam a estrada existir não estão mais ali, as pedrinhas não existem mais, muitas vezes estaremos no barro, na lama, longe das pedras que nos derrubam.
E quantas estarão em nossas sacolas. Nas nossas costas. Nos nossos bolsos escondidas. Quantas pedrinhas em punhos fechados. Em costas cansadas do peso que se soma dia a dia.
As vezes esquecemos, que as mesmas pedrinhas que removemos do caminho na ilusão de facilitar, juntas formam um caminho mais firme. As pedras sozinhas se não bem unidas podem ser pequenos obstáculos.
Juntas e bem unidas, formam uma estrada nova, que nos protege e nos conduz ida e volta pelo mesmo caminho, com mais segurança e com um caminho onde podemos até mesmo caminhar descalços ou com mais pessoas, na velocidade que quisermos, pois as pedras juntas e unidas, transformadas em mini pedrinhas, ficaram tão pequenas que formam blocos e assim, forma o calçamento da estrada bruta.
Quando evitamos as peras, evitamos também a melhoria, a evolução ou a possibilidade de desenvolvermos uma estrada mais firme. Tem uma frase muita usada em rede social, que é clássica : “com as pedras do caminho, um dia faço meu castelo”. Será?
As vezes fico pensando, que seria mais fácil deixar as pedras lá e aprender a caminhar com elas, sem pressa ou sem as remover, mas as colocando no lugar certo, com certeza o caminho até o castelo terá um olhar diferente com o caminho construído com elas.
Sem peso nos bolsos, sem peso nas costas e com um castelo construído com a escolha de poder decidir se feito de pedras ou rochas. Ou, quem sabe de flores e bosques.