Uma das participantes da manifestação contra as medidas restritivas impostas pelo governador Eduardo Leite, a advogada Doris Denise Neumann gravou um vídeo em que cita a frase em alemão “Arbeit macht frei” para defender “o direito de trabalhar”.
A expressão, que significa “o trabalho liberta”, pode ser lida ainda hoje nos portões do que restou dos campos de concentração da Alemanha nazista.

— Os alemães vão entender a frase que eu vou falar: Arbeit macht frei. Não foi isso que a gente aprendeu? Que o trabalho nos faz ser livre (sic). Pois aqui nós estamos reivindicando o trabalho. Se o governador que foi posto por nós no poder para a decisão não decidir que nós possamos trabalhar, a gente tira ele — diz a advogada, em vídeo que circula nas redes sociais.
Doris foi candidata a prefeita de Nova Petrópolis pelo Patriota em 2020 e ficou em último lugar, com 1.347 votos.
Representantes da comunidade judaica pediram providências à Secretaria da Segurança Pública e ao Ministério Público, alegando “discurso de ódio”. O vice-governador e secretário da Segurança, Ranolfo Vieira Júnior, informou que já pediu à Polícia Civil que instaure procedimento policial.
O procurador-geral de Justiça, Fabiano Dallazen, informou que encaminhará o vídeo à promotoria criminal para apuração.
Candidata que ficou em último lugar na eleição municipal de Nova Petrópolis em 2020, Doris Denise Neumann cita frase que decorava os portões dos campos de concentração na Alemanha nazista em vídeo gravado durante manifestação contra as restrições no RS pic.twitter.com/FaoPeHJERQ
— Paulo Egídio (@pauloegidiors) March 11, 2021
A Federação Israelita do Rio Grande do Sul divulgou nota em repúdio ao que chamou de “atitude vil da sra. Dóris Denise Neumann”.
A coluna tentou contato com Doris por telefone, mas ela não atendeu as ligações.
Leia a íntegra da nota da FIRS:
“NOTA DE REPÚDIO
A FIRS – Federação Israelita do Rio Grande do Sul vem a público manifestar seu repúdio à atitude vil da Sra. Dóris Denise Neumann, ex-candidata à Prefeita na cidade de Nova Petrópolis, expressada na tarde desta quarta-feira, 10, durante manifestação em frente ao Palácio Piratini, em Porto Alegre.
É amplamente conhecida a relação da frase “o trabalho liberta” com a mais infame instituição do Holocausto, o campo de concentração de Auschwitz. Ali, no seu portão de entrada, uma placa com esses dizeres transmitia a mentira de que aquele era um local de trabalho e de possível liberdade, quando se tratava da principal fábrica nazista de extermínio em massa.
É lamentável ver, mais uma vez, manifestações perniciosas que vulgarizam e banalizam a memória do Holocausto e dos sobreviventes e ofendem o povo alemão, em um momento já tão difícil do nosso país e do mundo. Entoar a frase, como chamada de ordem, em pleno centro de Porto Alegre, é gravíssimo e inaceitável em pleno 2021.
A pandemia de COVID 19 é apenas um exemplo de quanto os seres humanos são iguais e, por isso, responsáveis uns pelos outros. Respeitemos a vida, a história e a memória.
Sebastian Watenberg
Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul”
Com informações Rosane de Oliveira GauchaZH