Um cidade em que o turismo depende exclusivamente de um único produto. Assim é Cambará do Sul.
Toda a cadeia turística foi desenvolvida para atender os turistas de todos os cantos que chegavam para conhecer os famosos cânions situados na cidade. Os mais famosos: Itaimbezinho, no parque nacional Aparados da Serra, e Fortaleza, na Serra Geral.
E, desde que a administração dos parques foi cedida para gestão da iniciativa privada os turistas são raros pela cidade. O tema tem gerado intenso debate nas redes sociais entre moradores.
Conforme as regras da concessão, há 56 intervenções obrigatórias e investimento de R$ 33 milhões ao longo dos 30 anos do contrato com a empresa que venceu a licitação e assumiu a gestão dos parques.
Os parques foram concedidos à iniciativa privada em 2021. Até então, a entrada aos atrativos era gratuita. Com a iniciativa privada assumindo a gestão o valor do ingresso saltou para R$ 94,00 quase que imediatamente.
Hoje o movimento da cidade caiu de 2.000 para cerca de 300 visitantes, disse o empresário Leonardo Oliveira da Silva. Segundo ele, o faturamento da confeitaria da família despencou 50% e, pela primeira vez em quase uma década, ele passou a fechar as portas no domingo à tarde.
Além dos ingressos, a péssima condição das estrada é outro fator que afugenta os visitantes. “O momento que estragar teu carro, tu não volta nunca mais. Tem prejuízo de R$ 2.000 e pensa: ‘Na próxima vez vou a Gramado, que é tudo asfaltado‘”, contou Leonardo.
O trecho de 16 km que liga a cidade de Cambará aos cânions tem promessa de ser pavimentado até 2027 em uma obra R$ 29,7 milhões que ainda nem começou.
Giovane Klippel, presidente da Aeturcs (Associação de Empreendedores Turísticos de Cambará do Sul) fala que houve uma queda de 70% na busca por transporte turístico para a cidade. “O valor dos ingressos é muito alto. No futuro, quando melhorarem as estradas e a estrutura dos parques, aí, sim, poderia cobrar um valor alto, mas no momento teria que ser mais acessível“, diz ele.
Porém, na cidade é comum encontrar empresários que culpam “o momento da economia no país” para a queda de visitantes, mesmo que esta queda tenha iniciado justamente após a concessão.
Já a Urbia Parques, que administra a concessão, informou que não cogita reduzir o preço dos ingressos, disse o diretor comercial Samuel Lloyd.
“O que nós pretendemos fazer é aumentar a atratividade desse destino”, assinala, citando como exemplos as melhorias em estruturas existentes e o investimento em estruturas temporárias, como banheiros e futuras tirolesas”, disse o gestor.
Os dois parques, que formam a divisa natural entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, tem área total de 30,4 mil hectares. Os cânions Itaimbezinho e Fortaleza, além do Rio do Boi (no Estado vizinho) são os grandes destaques.
A empresa responsável pelos parques informou que já investiu, desde o início da concessão, cerca de R$ 20 milhões.
Na avaliação de Emiliano Fernandes Brugnera, gestor de marketing do Cambará Eco Hotel, a cobrança de ingresso não é o problema, mas sim a falta de “flexibilidade” da concessionária.
“Quem está acostumado a viajar sabe que há um custo. Porém, o valor de R$ 94 pode estar um pouco fora do padrão no momento. Por exemplo, se uma família com dois adultos e duas crianças com mais de cinco anos quer conhecer os parques, têm de desembolsar quase R$ 400 só em ingressos. Talvez uma meia entrada ou um combo familiar já ajudassem”, sugere o empresário.
Os relatos foram dados a reportagens do Portal UOL e GZH.