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Toda semana apresento para você leitor o desafio de explorar mais que um sentido ao ler o texto. Acredito que podemos SENTIR as emoções. Por isso, a Experiência sinestésica dessa semana será explorar o sentido do TATO.

Escalda pés – Modo de fazer: pegue uma bacia e coloque água morna (1lt de agua fria e 1lt de agua quente), 300 gramas de sal grosso, se tiver folhas frescas de hortelã ou mentinha coloque na bacia também. Antes de começar a ler esse texto, se sente confortavelmente  e coloque os pés no escalda pés. te desejo que relaxe e vamos juntos pras próximas linhas.

Hoje é domingo e eu estou aqui sentada, pensando o quanto eu quero escrever sobre uma notícia boa, sobre um olhar tudo bom de tudo que estamos vivendo. Que missão eu mesma me dei! Olhar o copo meio cheio ou meio vazio nestes tempos tem sido missão tipo Tom Cruise – Impossível. São tempos áridos.

Quando o Flávio me convidou para ser uma das colunistas do Acontece Gramado, fiquei lisonjeada, feliz, grata. Honrada. Mas, ao mesmo tempo, pensei: – Por que aceitaria? Eu sou dessas que pensa bastante. No decorrer da vida, uns tombos aqui, outros ali, a gente vai aprendendo que atalhos não existem. E então pensei: Em um momento em que as pessoas tem acesso a tanta informação e conteúdos, que existe um sentimento quase de histeria coletiva, tantas situações fora de controle, tanta desinformação. O que eu poderia oferecer?

Quem sabe encontrar um elo que pudesse nos conectar, independente no que você acreditam, em qual é o seu Deus, seu time, seu amor. Se você gosta de melancia e eu de jabuticaba. Apesar de tudo que nos separa, buscar as coisas que nos unem. Buscar nosso sofá compartilhado e não as mesas longas que nos separam distantes, olhando para as mesmas travessas.

E assim foi que sentei aqui nesta fria manhã e desde ontem estou a pensar: – que semana! Parece que o mundo virou de cabeça pra baixo. Quando uma “ponta” melhora, outras tantas desatam. E pensei (como disse penso bastante) onde está o nosso comum, e sabe, nosso comum está ai. Nesta janela. A realidade é a mesma para todos.

Alguns de nós estamos com a geladeira mais cheia, com os boletos mais em dia. Alguns de nós, estamos com os filhos estudando por computadores, já outros, trancados com os filhos sob o olhar de um único canal de televisão e talvez, algum acesso de facebook pré-pago ou por fibra óptica.

Alguns de nós sonhamos em ser blogueiros e ganhar “presentes” e ser recompensados para postar nas redes sociais o que é pautado como importante interessante e isso virar uma carreira que pode significar que alcancei o sucesso. A tão sonhada fama ficou mais fácil. Nem precisa ser encontrada por um caçador de talentos, ou estudar algumas décadas para poder dizer pela teoria o que de fato é relevante – a globalização nos coloca diante de vitrines imensas – nossas próprias janelas.

O cenário se tornou nossa casa, e o talento que todos temos – repito – todos temos – ficou mais fácil de rir, ficou mais fácil de humanizar marcas próximas, ficou mais fácil falar do que nos é comum. Olhamos mais pro amanhã do que pro ontem.

A notícia no menino Miguel que morreu ao cair do nono andar em Recife, poderia ser só mais uma tragédia cotidiana dessas que a gente está já acostumada. Como a tragédia da pequena cidade de Planalto onde após o desaparecimento por 10 dias menino Rafael, descobrimos perplexos, que ele estava ao lado de casa, dentro de uma caixa de papelão, assassinado pela mãe que diz pra polícia, o queria acalmar para largar o celular.

Mães colapsando. Seres humanos colapsando. Eu busquei o lugar comum, muito mesmo,  me colocar no lugar daquela “patroa” de Recife, e sem julgamentos imaginar o que poderia,  ter a feito apertar aquele botão, não ter puxado a criança pela mão e levado para dentro do apartamento e conversado com ela. Anos e anos de um racismo velado, disfarçado? Talvez.

Fácil julgar e dizer que é por que é um menino negro. Estamos muito focados no problema, no dedo em riste no nariz alheio. Ou falar sobre o policial que matou um negro americano pisando em cima de seu pescoço. Estou dizendo, tá difícil escrever buscando o olhar bom, sobre tudo isso. Todos têm um pouco de cada uma dessas pessoas. Ambos os casos são reflexos do que estamos vivendo. Essa aceleração. Ter que resolver de forma imediata. Sempre atrasados, sem tempo. Pergunto-me: – sem tempo para que?

 Se a criança chora, se liga o celular e coloca na cara dela. Se o bebe não está dormindo se contrata um profissional que ensina a mágica de dormir. Se a pessoa fala algo que eu tenho certeza que não é verdade, não se dá espaço para dúvida, se pisa em cima do pescoço e o silencia.  – Afinal, quem é você para eu te ouvir? OU melhor, quantos seguidores você tem?

Estamos grotescamente animalescos. Animais seria uma palavra equivocada, pois geralmente os animais quando em perigo se protegem. Cada qual dentro da sua natureza se agrupa se fortalece. O que tem nos unido é o que nos separa. São nossas diferenças. São as pequenas conformidades. Os pequenos silêncios. O pensar duas vezes. O ter calma. A paciência. O olhar sobre o outro não com os olhos no celular, mas nos olhos.

Não quero acreditar que chegamos nessa etapa da evolução que um policial desejou matar alguém por causa da sua cor ou que aquela senhora com nome de princesa desejou apertar o botão do nono andar com uma criança de cinco anos dentro do elevador. São segundos de não pensar. São segundos de deixar pra lá. Onde falta tanto. Falta pensar. Falta calma. Falta paciência. Falta vontade de fazer o tempo ser utilizado pro que verdadeiramente importa.

Nossas escolhas como sociedade são reflexo do que é aceito, do que é desejado. Vamos desejar mais olho no olho, mais crianças ao redor de nossas pernas. Desejar a calma de ouvir opiniões que sejam diferentes das nossas, sem gritos, sem violência, sem achar que uma arma resolve tudo no mundo. Sem considerar somente o que está escrito em alguma página do facebook.

Precisamos validar o que é o tempo. O que são segundos? Nos desligar do lá fora e ligar o aqui dentro. O que resolve tudo no mundo, geralmente exige um único movimento e ele, geralmente consiste em fechar a boca e olhar pro outro de verdade, estar ali, estar presente de corpo, alma e coração e não olhando pra janela ali de fora. Olhe ao redor, esteja aí.

Pegue seu celular por alguns segundo e aperte o botão de desliga. Se ligue neste dia. Olhe no calendário. Aprecie sua respiração. Aprecie seu silêncio. Aprecie o cheiro da sua casa e seja qual for sua janela, estamos aqui bem perto, olhando pra mesma direção. Fiquem bem. Boa semana!

Crônicas e histórias cotidianas sensoriais
“Acredito que podemos ler, estimulando mais que um sentido. Por isso, em mais de 18 anos de profissão, me apaixonei pelo processo de escrever levando o leitor a usar além da visão, outros estímulos sensoriais.

marcelamuttoni1@gmail.com

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