Certo dia, Hefesto, o magnífico deus das construções e da manufatura, decidiu personificar a virtude da verdade na esperança de que ela passasse a regular o comportamento dos humanos. Então, deu início a escultura de uma linda estátua a quem chamaria de Aleteia – a verdade. Acontece que enquanto trabalhava foi chamado a atender um pedido inesperado do poderoso Zeus que o levou para longe.
Hefesto deixou seu aprendiz, Dolo, no comando de sua oficina. Dolo era astuto e ambicioso e, pretendendo ocupar o lugar de seu mestre, resolveu criar uma cópia idêntica à Aleteia, mesmo tamanho, mesma aparência e a chamou de Pseudo.
Quando estava prestes a concluir a peça faltou argila para finalizar os pés da obra e antes que pudesse buscar mais, seu mestre retorna. Ao dar de cara com a obra, Hefesto fica impressionado com a similaridade das duas estátuas e, agradecido, insere ambas no forno da vida para se concretizem.
Ao sair do forno Aleteia (a verdade) caminha com passos firmes, segura e tranquila, enquanto Pseudo (a mentira) anda cambaleando com passos inseguros, sempre ficando à sombra de sua irmã.
Surge, então, o ditado: A mentira tem perna curta.
A verdade foi criada por um deus para personificar sua virtude, enquanto que a mentira, uma cópia idêntica e incompleta, nasceu de uma tentativa de trapaça.
O que mentir tem a ver com autoconfiança e poder de ação de um indivíduo?
Nosso cérebro é um grande processador de dados, capaz de processar bilhões de dados em questão de segundos, mas essa capacidade não é ilimitada e ele pode demorar até três vezes mais para processar uma ficção do que um fato real.
Sabe quando teu celular tá com a memória cheia? Ele começa a demorar para abrir os aplicativos, carregar as imagens, enfim, para dar uma resposta ao comando que foi solicitado? Assim é a nossa mente, quanto mais mentiras mantermos, mais tempo e energia precisaremos para sustentá-las, logo teremos menos agilidade – menos atitude.
Em outras palavras, quando mentimos com frequência gastamos três vezes mais energia para manter nossa pseudo história e demoramos o triplo do tempo para gerar uma resposta e isso reduz nosso poder de ação. Sem contar que uma pessoa que está mentindo tem alterações na pressão sanguínea e nos batimentos cardíacos, além de gerar movimentos involuntários com o olhos e as mãos que refletem sua insegurança através da linguagem corporal.
Podemos até dominar as palavras mentirosas que saem de nossa boca, mas nosso corpo revelará a verdade e isso afetará a avaliação de nosso desempenho.
Ao longo de minha atuação como Analista Comportamental, tenho percebido o quando as pessoas não estão abertas à vida por carregarem dezenas de segredos sustentados por mentiras que criam verdadeiras paredes de bloqueios em diversas direções.
É mais ou menos assim, imagine que você está andando por uma trilha e, a cada segredo que você mantém é um caminho que se fecha. Você inicia andando em linha reta, de repente alguém pergunta sobre algo que você está mantendo escondido, aí você fecha aquele caminho, mudando de assunto, e pega um atalho à esquerda, então continua nesse sentido, até que a pessoa pergunta sobre outro assunto que você prefere não falar, aí cria outro desvio para à esquerda, depois novamente, outro assunto proibido, mais um desvio, digamos à direita, e assim vai.
No final do percurso, ao olhar para trás, o que você veria? Um grande ziguezague que te fez demorar três vezes mais para chegar onde queria! Esse é o resultado e a consequência de se manter segredos e se sustentar mentiras: um caminho mais longo e sinuoso nas relações.
Há casos em que mentimos tanto para manter outra mentira que ficamos presos em um labirinto imaginário sem mais conseguir saber o que é de fato real em nossa vida. Sou treinado para perceber pontos de bloqueios onde o indivíduo criou verdadeiros nós, dos quais não tem consciência, e ajudá-lo a enxergar a rota de sua verdade.
Você certamente já ouviu a frase: Pronto, falei, tô leve. Esse é um alívio da nossa mente para quando, enfim, libertamos a verdade que estava sendo mantida em cativeiro. Imagina viver com essa sensação constantemente, abrindo espaço para um processamento direto e rápido em sua mente? Dizer a verdade é sempre mais vantajoso.
Exercício Prático: Converse com Aleteia (sua verdade interior). Fique em frente a um espelho, olhe firme nos olhos e faça uma pergunta ou afirmação em voz alta, assim: Aleteia, musa da verdade, me diga, eu sou feliz?
Ouça a resposta que virá imediatamente. Ou pergunte coisas dos tipo: O que falta para eu ser bem sucedido na minha carreira? Ou afirme: Eu sou uma pessoa realizada na vida! Ou: Sou uma boa mãe. Sou um bom marido. Sou um ótimo colega de trabalho! Anote e reflita sobre o que você ouviu. Depois pergunte-se porque e como resolver o que está faltando.
Viver sua verdade afeta sua integridade, honestidade, paz interior, aumenta a certeza dos seus motivos para agir e isso reflete em uma postura de autoconfiança. Escolha sempre a verdade, custe o que custar.
Não perca! No próximo texto: O Quinto Mandamento da Autoconfiança.