A tragédia que abalou Gramado neste domingo, dia 22 de dezembro, não é o primeiro desastre aéreo que a cidade enfrenta. Na queda da aeronave, na manhã de ontem, dez pessoas da mesma família morreram (todos ocupantes do avião bimotor).
A aeronave de pequeno porte decolou no Aeroporto de Canela por volta das 9h12 da manhã, em condições climáticas adversas com chuva e muita neblina. Após a decolagem, a aeronave fez uma curva para a direita e, em poucos minutos, colidiu no topo de um prédio na Avenida Central, caindo sobre uma loja de móveis, e atingindo uma residência e uma pousada, a poucos metros da Avenida das Hortênsias, via que liga Canela a Gramado.
Todos os ocupantes da aeronave morreram e 17 pessoas que estavam em solo ficaram feridas, duas em estado grave e com queimaduras.
Tragédia em Gramado no ano de 1995 teve colisão no ar
Esta tragédia envolvendo aviões de pequeno porte não é a primeira a assustar a comunidade de Canela, Gramado e do Rio Grande do Sul.
Em 22 de outubro de 1995, um choque no ar entre duas aeronaves, um Cessna e um Campeiro, aconteceu por volta das 17 horas causando a morte de nove pessoas. Os aviões voavam a 500 metros do chão quando se chocaram. O Sertanejo caiu perto do km 39 da rodovia RS-115, em um barranco, e por pouco não atingiu algumas casas existentes no local.
A tragédia teve apenas uma sobrevivente, Camila Atayde Martins, na época com 12 anos. Ela estava no Cessna que caiu em um lago e foi resgatada e levada ao Hospital de Gramado com ferimentos leves.
Testemunhas que presenciaram a colisão no ar relataram que viram o Cessna bater frontalmente com o Campeiro. Uma das aeronaves caiu no lago de uma propriedade rural. A outra chocou-se contra o solo e ficou totalmente destruída.
Segundo informações da Polícia Civil na época dos fatos, as duas aeronaves faziam vôos panorâmicos sobre Gramado e Canela. As vítimas eram moradores de Novo Hamburgo e Canela.
Morreram o piloto do Sertanejo, Adriano Dalla Santa, e os passageiros César Augusto Scheffer, Henrique Souza Dias, Dinamara Souza Dias, Sérgio Fogaça e Emiliano Becker, além do piloto Luís Hoffmann, do Cessna, e dos passageiros Lúcio Parmegiani e Marcos Atayde.
Professor Marcelo Veck conta detalhes da tragédia de 1995
Em entrevista ao Acontece Gramado, o professor e historiador Marcelo Veck, conta detalhes da tragédia aérea que marcou os anos 90 em Gramado e Canela.
“Naquela tragédia perdemos muitos amigos. Lembro que era a final da Fenaero, evento de aeronaves que acontecia no Aeroporto de Canela. As duas aeronaves decolaram dali e se chocaram em Gramado caindo no bairro Três Pinheiros, perto do Sierra. Uma caiu para um lado e outra tentou pousar em um açude em um pouso forçado“, conta o professor.
Segundo Marcelo, a tragédia teve uma sobrevivente: a jovem Camila Atayde Martins, que atualmente mora em Novo Hamburgo. Nove pessoas morreram, incluindo moradores de Canela, ligados a famílias tradicionais da cidade.
“Foi um episódio muito impactante na cidade. Lembro que houve um velório coletivo no ginásio da Comunidade Evangélica em Canela, perto do Clube Serrano“, conta o historiador.
“Foi tudo muito triste e emocionante para toda comunidade na época, e a gente lamenta muito que um novo desastre tenha ocorrido aqui em nossa região“, comenta o professor Marcelo.
A Fenaero era um evento que ocorria em canela com apresentações aéreas da esquadrilha da fumaça e também de caças da FAB com rasantes.
Sobrevivente relatou momentos antes da queda
Em entrevistas após receber alta, dias depois da tragédia, Camila Martins contou o que aconteceu durante o acidente aéreo.
“A gente só sentiu o acidente quando o avião começou a cair. Ficamos desesperados, eu me sentia como se não estivesse ali, Antes, só sentimos um estrondo, que ninguém tinha entendido de onde vinha, nem o piloto. A minha última lembrança foi do meu tio (Marco Antônio Atayde, que morreu no acidente) dizendo que eu ia sair salva, que eu não ia me machucar. Ele me abraçou, fez um ninho com os braços, me colocou dentro e disse para eu fechar os olhos. Eu fechei e não lembro de mais nada. Ele e Deus me salvaram. Eu amava muito o meu tio“, contou Camila na época.
Ela foi resgatada pelo casal de moradores Eder e Jaqueline Oliveira.
“Escutamos um estrondo e corremos até a janela. Avistamos os destroços dentro do açude e saímos correndo“, contou Jaqueline ao falar sobre o acidente em uma entrevista. Segundo ela, Eder se jogou na água para buscar sobreviventes e encontrou Camila presa à poltrona do avião pelo cinto de segurança. Ele a retirou do açude, no colo, e entregou para que a mulher levasse a um hospital.
A tragédia e resgate de Camila se tornou livro. A obra foi lançada em 1996 com o título: Camila, a sobrevivente, e seu tio herói com autoria de Fidélis Dalcin Barbosa e Ottília Eltz Atayde.
Jornalista – Editor e fundador dos canais Acontece Gramado
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