A investigação sobre a queda do avião que vitimou onze pessoas em Gramado, no final do ano passado, no dia 22 de dezembro, ganhou um novo e decisivo capítulo. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informou à Polícia Civil que a análise de destroços da aeronave será conduzida nos Estados Unidos. A medida se deve ao fato de o motor do avião, um Piper Cheyenne de prefixo PR-NDN, não ser de fabricação nacional. A empresa americana responsável pela produção do componente se dispôs a realizar uma perícia detalhada na peça, buscando identificar possíveis falhas que possam ter contribuído para a tragédia.
O acidente, ocorrido em uma manhã de forte neblina em uma das áreas mais movimentadas da cidade turística, chocou a comunidade local e visitantes. A aeronave, que partiu de Canela com destino a Jundiaí (SP), caiu minutos após a decolagem, ceifando a vida de todos os dez ocupantes da família Galeazzi, incluindo o piloto e proprietário do avião, o empresário Luiz Cláudio Galeazzi. Os destroços atingiram uma pousada, ferindo gravemente duas funcionárias. Uma delas, a camareira Lizabel de Moura Pereira, faleceu três meses depois em decorrência das queimaduras. Outras 17 pessoas que estavam na região do impacto sofreram ferimentos.
O inquérito policial sobre o caso já está em fase de conclusão, aguardando apenas o laudo técnico da análise que será realizada nos Estados Unidos para ser finalizado.
As hipóteses da investigação
Um relatório preliminar divulgado pelo Cenipa em janeiro deste ano já havia apontado duas linhas de investigação para o acidente. A primeira delas considera a hipótese de uma “colisão com obstáculo em voo”. Segundo o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), da Força Aérea Brasileira, acidentes desta natureza frequentemente ocorrem quando o piloto perde a noção da real posição da aeronave em relação ao solo ou a obstáculos.
As condições meteorológicas no momento da decolagem eram extremamente desfavoráveis. O aeroporto de Canela, de onde a aeronave partiu, era atingido por uma forte cerração. A ausência de uma estação meteorológica e de uma torre de controle no local, que pudesse fornecer orientações precisas para pousos e decolagens, colocou a decisão de prosseguir com o voo inteiramente nas mãos do piloto. Especialistas consultados na época do acidente afirmaram que, dadas as condições climáticas, a decolagem não deveria ter sido realizada, pois a cerração intensa poderia ter levado à desorientação espacial do piloto.
A segunda causa provável apontada pelo Cenipa é a “perda de controle em voo”. De acordo com a definição da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), esta ocorrência se caracteriza por um desvio extremo e não intencional da trajetória de voo planejada.
A aeronave não possuía caixa-preta nem sistema de gravação de áudio na cabine, o que dificulta a reconstituição exata dos momentos que antecederam a queda.
Relembre o Acidente
A tragédia se desenrolou em poucos minutos. O avião decolou de Canela por volta das 9h15min. Três minutos depois, realizou uma curva acentuada para a direita e colidiu com a chaminé de um prédio em construção. Em seguida, a aeronave atingiu uma residência e uma loja de móveis, próximo à movimentada Avenida das Hortênsias, no bairro Avenida Central. O impacto gerou um incêndio e uma cena de destruição, mobilizando um grande efetivo de resgate e deixando um rastro de luto e consternação.
