Em tempos de tanta exposição, o julgamento disfarçado, amizades e interesses maquiados de empatia, a sinceridade e as pessoas de verdade viraram artigos de luxo, raros.
As palavras têm o poder de nos ferir, somente quando damos a elas esse poder. Mas atualmente, quanto medo da vergonha. O que vão pensar? Vão rir? Não estou bem, apaga! Não quero aparecer porque falo mal. Como eu escuto essas frases. E me vejo nelas.
Um dos dias mais tristes da minha vida foi na aula de Tv e Vídeo quando me vi pela primeira vez na televisão, em um exercício de reportagem televisiva. Eu chorei muito. Era horrível. Minha voz. Decidi que nunca trabalharia com video naquele dia. Alguns poucos anos depois tive que gravar programas de rádio e mesmo com vergonha, fiz. Com medo de rirem de mim, porque eu mesma me julgava. O medo era meu. E agora, no lançamento da empresa,a orientação de começar a mostrar minha personalidade através de vídeos, falar, para o meu público se conectar comigo. Não dormi por 1 mês. Os primeiros stories eu gravava e chorava de vergonha. Me achava feia, achava ruim. Faz parte do play.
Temos vergonha do real. Vergonha da própria aparência. Do próprio nariz.. Vergonha do peito que amamenta filhos. Vergonha da mulher que não é a do amigo, que já fez 5 plásticas, malha e passa o dia cuidando do corpo, enquanto a sua trabalha. Vergonha de aparecer na internet sem fugas. Com bom humor, com naturalidade e sem máscaras. Vergonha de ser a gente mesmo. Isso começou a parecer absurdo.
Mas queremos a aceitação, a validação, de quem? Pra quem? Validar quem somos? O que devemos ser? Todos iguais? Todos devemos ter um mesmo comportamento padrão sobretudo, nos vestirmos como um todo, temos a mesma boca, a mesma testa e os mesmos dentes. Também devemos postar as fotos com os filtros que serão bem aceitos e que nos façam parecer bem sucedidos. Aliás, o que é ser bem sucedido?
O carro da marca dos sonhos de 1% das pessoas no mundo? Ter uma pessoa que é “meia boca” e não faz seu coração vibrar mas é aceitável num padrão instagramável. Num mundo onde normalizamos mulheres trabalharem 18h por dia e criarem filhos sozinhas, se por um acaso tiverem a infelicidade de terem que se divorciar, por abusos, violência ou desamparo. A violência disfarçada de preocupação é repulsiva. Que vergonha!
A violência silenciosa da família. A violência dos omissos. A violência dos que consentem, aos que sabem e nada fazem. A violência dos que falam pelas costas, mesmo sabendo a verdade sem defender. Os sensores de boa conduta, né.
Dizem que o mundo dá voltas. Dizem também que Deus é justo. E busco acreditar nisso tudo pela ótica que não existem vítimas e nem algozes. Somos um conjunto. Mas o preço que se paga, não é o mesmo para todos.
Normalizamos a falta de educação como opinião. Não é. E nem toda a opinião é válida. E nem tudo que pensamos pode e deve ser dito. Opinião sem reflexão, bom senso e crítica é maldade, desinformação ou crime. Crítica construtiva é aquela que a pessoa consegue ouvir e adequar de forma respeitosa, todo resto é seu ego, presunção e seu senso de auto importância, acreditando que é superior aos outros.
Mas vivemos o tempo do “esgoto social”, onde o abismo entre a verdade e o tolerável permite que qualquer pessoa diga o que acha, sem certificar ou validar essa verdade, sem ser punida por isso. E a vergonha passa a ser do que tem menos força, da vítima ou do que consideramos o “errado”. A vergonha usada como arma. Humilhamos para nos sentir no poder. Através do riso do outro, estamos certos. Somos melhores, maiores.
As violências atuais vem maquiadas de discussões, de comentários em grupos de famílias, em conversas íntimas que sempre acabam chegando aos ouvidos de todos. Do que devemos ter vergonha?
Vergonha da falta de gratidão., dos que esquecem a mão estendida, a gentileza, o favor, o apoio. Mas, vergonha do trabalho que eu não entendo, mesmo sendo aquele trabalho que sustenta uma casa e crianças?
Vergonha da amiga blogueira que tá pelo menos ocupando o tempo com algum objetivo, mesmo que seja em prol da vaidade dela mesmo. Está prejudicando quem? E quantas pessoas que ajudam outras pessoas? Mas vergonha de falar ou julgar os outros, os filhos dos outros, a vida dos outros, mesmo que a sua casa tenha um teto de vidro bem grande, não é motivo de vergonha?
A vergonha é uma semente que nasce morta. Nutra as boas sementes que fazem de você único. Nem todos compreenderão, mas faça sua parte, num mundo com tanta maldade, está mais do que na hora, de perdermos a vergonha de falar a verdade e de sermos bons, já que os maus não tem vergonha, de serem sem vergonha. Literalmente!
Obs: Seja um baita sem vergonha de ser bom e fazer o bem no que fizer, mas não passe vergonha no débito e nem no crédito, bom senso e autocrítica ainda são moedas valiosas e que fazem toda a diferença.