Há um ano, as belezas serenas de Gramado e Canela foram brutalmente interrompidas por um evento climático extremo que deixou um rastro de destruição e dor.
As intensas chuvas que castigaram as duas cidades culminaram em deslizamentos de terra devastadores, expondo a vulnerabilidade de uma região acostumada a receber turistas de todo o mundo. Nove vidas foram perdidas na tragédia.
A Tempestade Silenciosa: Chuva recorde em poucos dias
Entre os dias 29 de abril e 2 de maio de 2024, Gramado e Canela foram atingidas por um volume de chuva extraordinário, com acumulados que chegaram a cerca de 500 milímetros. Essa precipitação torrencial, desencadeada por um ciclone extratropical, saturou o solo e foi o principal fator para os deslizamentos de terra que assolaram a região.
Naquele trágico período, os pluviômetros registraram níveis alarmantes de precipitação, superando a média histórica para a época. O interior dos municípios foi duramente atingido. Comunidades rurais antes pacatas se viram isoladas por deslizamentos que bloquearam estradas vicinais, interrompendo o acesso a serviços básicos.
A força da natureza não poupou as principais vias de acesso, com quedas de barreiras significativas em estradas estaduais e municipais, causando transtornos e perigos para motoristas e moradores.
Diante da ameaça iminente, as autoridades locais e a Defesa Civil agiram rapidamente para retirar famílias inteiras de áreas consideradas de alto risco. Centenas de pessoas perderam suas casas ou foram impedidas de retornar por questões de segurança, sendo acolhidas em abrigos temporários ou dependendo da solidariedade de familiares e amigos. O trauma da perda material se somou à angústia da incerteza sobre o futuro.


A dor inesquecível: Nove vidas ceifadas pelos deslizamentos
Entre os dias 2 e 3 de maio de 2024, Gramado registrou sete mortes provocadas pelos deslizamentos de terra.
Na manhã do dia 2, na Linha Pedras Brancas, o soterramento vitimou três integrantes da mesma família: Kaique Andriel Ludvig Santos, 13 anos, Nitiele Ludvig, 36, e Silvio Antonio Pellicioli, 47.
Ainda em Gramado, Noeli da Rosa Duarte, 56 anos, moradora da Linha Quilombo, foi a quarta vítima fatal, também soterrada na manhã do dia 2.
Outro deslizamento na Linha Pedras Brancas, na tarde do dia 3, vitimou mais uma família, com a morte de Matilde Veronica Zimmermann, 47, e Rudimar Branchine, 62, cujos corpos foram encontrados no fim da tarde. O corpo de Jocemar Zimmermann Branchine, 16, foi localizado no dia seguinte.
Em Canela, na madrugada do dia 2 de maio, um deslizamento de terra na localidade de Rancho Grande arrastou uma residência, resultando na morte do casal José Alzemiro de Moraes, conhecido como Mirinho, e Marina de Brito de Moraes. Seus corpos foram encontrados por moradores e familiares durante as buscas.
A força das águas e a instabilidade do solo obrigaram cerca de 1.250 pessoas, só em Gramado, a deixarem suas casas.

O mapa da vulnerabilidade: Milhares em áreas de risco
Um estudo do Serviço Geológico do Brasil (SGB) revelou a extensão da vulnerabilidade em Gramado e Canela. Em Gramado, 9.728 pessoas residem em áreas de risco, enquanto em Canela, esse número chega a 7.308. Esses dados destacam a necessidade urgente de medidas preventivas e de planejamento urbano para proteger a população de futuros eventos climáticos extremos.
Impacto econômico bilionário – Calcula-se que o prejuízo para toda a cadeia turística na região das cidades de Canela, Gramado, São Francisco de Paula e Nova Petrópolis tenha sido superior a R$ 1 bilhão por conta dos efeitos das enchentes e o fechamento do Aeroporto Salgado Filho por meses. O maior impacto foi a conectividade logística, o que impediu a programação de muitos turistas.
Reconstrução: um longo caminho pela frente
Gramado recebeu R$ 33 milhões para a recuperação de áreas danificadas, destinados a obras de contenção e reconstrução de ruas importantes. O Governo Federal contribuiu com recursos para obras infraestrutura e linhas de crédito para empreendedores. Na área habitacional, cerca de R$ 8 milhões foram aplicados em indenizações por terrenos perdidos, e o programa de Aluguel Social auxiliou diversas famílias.
O prefeito de Canela, Gilberto Cézar, busca atualmente a liberação de cerca de R$ 10 milhões para investimentos na recuperação da Rota Panorâmica, via que liga o município a Três Coroas e que foi significativamente atingida pelos deslizamentos.
Um ano depois da tragédia, Gramado e Canela se esforçam para reconstruir não apenas a infraestrutura danificada, mas também a confiança dos turistas. As marcas da destruição ainda são visíveis em algumas áreas, mas a resiliência da comunidade e os esforços de recuperação são notáveis.
Investimentos em prevenção de desastres, como mapeamento de áreas de risco e obras de contenção, tornaram-se prioridade. No entanto, a memória das nove vidas perdidas permanece viva, lembrando a fragilidade diante da força da natureza e a importância de um planejamento urbano e ambiental responsável.

Jornalista – Editor e fundador dos canais Acontece Gramado e Acontece Canela
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